Literatura é uma
linguagem específica que, como toda linguagem, expressa uma determinada
experiência humana, e dificilmente poderá ser definida com exatidão. Cada época
compreendeu e produziu a literatura a seu modo. Conhecer esse “modo” é, sem
dúvida, conhecer a singularidade de cada momento da longa marcha da humanidade
em sua constante evolução. Conhecer a literatura que cada época destinou
as suas crianças é conhecer os ideais e valores ou desvalores sobre os quais
cada sociedade se fundamentou (e se fundamenta...). (COELHO, 2000, p. 27-28)
A literatura infantil sempre esteve e estará
presente em nossas vidas muito antes da leitura e da escrita, seja por meio das
cantigas de ninar, das brincadeiras de roda ou das contações de histórias
realizadas pelos familiares. Porém quando as crianças chegam à escola é que a
literatura passa a ter o poder de construir uma ligação lúdica entre o mundo da
imaginação, dos símbolos subjetivos, e o mundo da escrita, dos signos
convencionais impostos pela cultura sistematizada.
Uma boa obra literária é aquela que
apresenta a realidade de forma nova e criativa, deixando espaço para o leitor
descobrir o que está nas entrelinhas do texto. A interação da criança com a
literatura possibilita uma formação rica em aspectos lúdicos, imaginativos e
simbólicos. O desenvolvimento dessa interação, com procedimentos pedagógicos
adequados, leva a criança a compreender melhor o texto e seu contexto.
A literatura
favorece o desenvolvimento humano, tanto o social quanto o individual.
Transforma a realidade, pois possibilita a reflexão do real e desperta na
criança a busca de uma conquista de seus desejos. A literatura é um instrumento
que transmite conhecimento e a cultura de uma comunidade.
São três as funções exercidas
pela literatura: a função psicológica, a formadora e a social. A função
psicológica desperta no homem a necessidade de fantasiar. A função formadora
estimula o desenvolvimento educacional e a formação do homem. Enquanto a função
social leva o indivíduo à sua identificação com o ambiente vivenciado na obra
literária.
A literatura
tem um papel importante para educação da criança, em sua fase de grandes
descobertas e curiosidades. Como arte, a literatura trabalha o imaginário, a
criatividade e estimula a linguagem. Assim, pais e professores devem explorar
as múltiplas visões possibilitadas pela leitura de textos literários, que levam
as crianças à possibilidade de reflexão, questionamento e recriação do real.
De acordo
com os estudos de Williams e Mclean (1997), crianças surdas, acostumadas com
leitura de livros de histórias em LIBRAS, tentam recontar as histórias.
Descrevem os sentimentos das personagens baseando-se no texto e na ilustração.
As crianças explicam razões para o comportamento das personagens e julgam as
suas ações.
As crianças
surdas passam pelas mesmas etapas que as crianças ouvintes no processo de
aquisição de leitura e escrita. Ou seja, apresentam a capacidade de elaborar
representações simbólicas e desenhos, de reconhecer os formatos das letras,
para enfim chegar à forma convencional de aprendizagem da escrita e leitura. E
para se desenvolverem precisam passar pelas etapas da aquisição de linguagem no
seu tempo, com sua língua oral ou visual, para não terem um déficit na sua
aprendizagem.
Quadros
(2000) comenta que o acesso a leitura e escrita pela criança surda teria duas
“chaves preciosas”: o relato de histórias e a produção de literatura infantil em sinais. Introduzir textos em língua de sinais, enquanto
prática discursiva, dará condições para a criança surda de perceber como
funciona o texto escrito. Esta possibilidade de trabalhar a língua de sinais
via texto poderia ser concretizada através da utilização de vídeos em língua de
sinais, contos de história por adultos surdos, teatros, etc.
Procurar uma literatura
infantil que pudesse agregar, além do exposto acima, o desenvolvimento da
linguagem, o conhecimento de mundo e a riqueza cultural do nosso país,
levou-nos até Monteiro Lobato, com sua rica e espetacular obra “O Sítio do
Picapau Amarelo”. Com o “Sítio”, Monteiro Lobato
passou a fazer parte da formação de gerações e gerações de brasileiros, por
meio de histórias cujo conteúdo educativo se mescla à irreverência, à liberdade
de imaginação, ao incentivo ao questionamento e ao desenvolvimento de leitores
críticos e independentes. Nesse espaço ficcional moderno e democrático,
convivem figuras típicas da cultura brasileira - como o Saci, a boneca de pano
e o curupira-, heróis da mitologia grega, personagens de desenho animado e uma
infinidade de tipos e situações que fundem o arcaico ao moderno, a realidade à
fantasia, em formas narrativas coloquiais e despojadas, que lembram a tradição
oral de contar histórias.
Este plano
de trabalho para o CAS, no segundo semestre de 2015, proporcionará as crianças
e seus familiares, um leque amplo de conceitos, conhecimentos culturais,
interações, focados no objetivo principal: a aquisição e aprendizado da LIBRAS.
Esperamos
que, com esse trabalho possamos contribuir significativamente com os
professores que atuam na educação de surdos, com propostas de atividades,
criação de materiais e sugestões de interação entre escola, alunos e famílias.