terça-feira, 30 de junho de 2015

EscreVendo o Português, viVendo o mundo da leitura

         O ensino da leitura é um grande desafio para professores de língua portuguesa como segunda língua para surdos. Mas com certeza não se compara ao desafio da criança surda para aprender a ler.
Não há uma receita certa, infalível para auxiliar o professor. Por isso, precisamos aguçar nossos olhos e observar a criança surda nessa jornada. Para ela, a noção de palavra é muito distante de sua realidade, a questão da escrita é uma incógnita, já que ela não representa a língua dessa criança. Por isso, dizer para a criança que ela precisa aprender, que é importante e etc, etc não é suficiente para estimulá-la.
         Observando as crianças ouvintes de três, quatro anos, percebemos que elas adoram cantar, declamar pequenos versos, às vezes até poemas. Ora, essas crianças já estão aprendendo a ler. Cada música, poema ou verso que elas aprendem é um passo rumo à leitura. Quantas palavras, significados ficam registrados em sua memória! Quanta alegria em cantar! Mas, acima de tudo, quanto prazer em aprender a Língua Portuguesa!
Pensando especificamente na criança surda, é importante lembrar que a primeira língua que ela aprende é a Libras, não é o Português. Então, aprender a ler significa aprender uma segunda língua, à qual a criança não tem acesso pelo ouvido. Ou seja, diferentemente das ouvintes, as crianças surdas, ao chegarem na escola, não têm um “banco de palavras” na memória para auxiliá-las na leitura.
Será que nós professores temos consciência disso? Como nós ensinamos? Como selecionamos os textos? Que tipo de textos oferecemos?
         Ler não é uma atividade realizada apenas para aprender a gramática do português. Ler não é uma atividade que se faz para cumprir tarefas pedidas pelos professores. Ler vai muito além de decifrar palavras que aparecem em sequência num pedaço de papel.
De fato a leitura permite realizar todas essas atividades, no entanto, essa não é sua finalidade. Para que uma criança surda aprenda a ler falta algo. Falta prazer. Onde está o prazer de aprender a língua portuguesa?
Está em suas mãos, professor! Deixe a criança surda cantar, declamar com as mãos. Associe movimento aos textos, junte alegria, acrescente emoção! Misture com descobertas, tempere com desafios, recheie com cores e cubra com conhecimento! Depois, deixe-a curtir e repetir quantas vezes ela quiser. O sabor dessa aventura a gente nunca esquece!
Neste primeiro semestre de 2015, iniciamos o projeto “Identidade” estudando as partes do corpo. Para ajudar na aquisição do vocabulário (etapa indispensável para o desenvolvimento da leitura), usamos vários materiais de apoio, como os bonecos de pano articulados, o kit caras e caretas, fichas com o nome das partes do corpo, dados com o nome das partes do corpo, atividades dirigidas, jogos online, entre outros, e tivemos aulas na sala de informática. Veja o que fizemos...

O resultado, confira abaixo!




























Por Ana Lúcia Kretzer Barotto

terça-feira, 16 de junho de 2015

Habilidades Auditivas


No Serviço de Áudio-Comunicação, a integração entre fonoaudiologia e pedagogia visa promover o desenvolvimento da criança surda usuária de implante coclear, alinhando os atendimentos no intuito de garantir uma intervenção mais ampla e completa, unindo de forma sistemática habilidades auditivas e comunicativas da criança, estimuladas por situações de aprender a escutar, onde habilidades de audição, fala, linguagem, cognição, escrita e comunicação são integradas, seguindo as seqüências do desenvolvimento natural.



Um dos objetivos deste serviço é o de desenvolver as habilidades auditivas do individuo (detecção, discriminação, reconhecimento e compreensão auditiva) ajudando-o a aprender a escutar, através do trabalho de treinamento auditivo de forma que a reabilitação/ habilitação aconteça gradativamente.
O treinamento auditivo tem por finalidade fazer com que esses usuários aprendam a ouvir e interpretar os sons desenvolvendo ao máximo seus resíduos auditivos, visando desenvolver as funções auditivas necessárias a aquisição e ao desenvolvimento da linguagem oral.
A primeira habilidade auditiva que a pessoa surda adquire é a detecção auditiva e, conseqüentemente, deve ser a primeira habilidade a ser trabalhada onde se deve chamar atenção para a presença e ausência do som. 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     
O passo seguinte é trabalhar a discriminação auditiva, onde são apresentadas respostas diferenciais diante de características específicas do estímulo sonoro. Diferenciar dois ou mais estímulos sendo eles: sons instrumentais, sons ambientais, sons de fala, discriminação quanto a sua duração, discriminação quanto à intensidade. 




Posteriormente ou concomitantemente, trabalha-se o reconhecimento auditivo, onde deverá identificar o som, classificando-o e nomeando o que ouviu, repetindo ou apontando o estímulo. 




Por fim, a última habilidade a ser trabalhada é a compreensão auditiva, na qual é preciso entender os estímulos sonoros sem repetição. Responder perguntas, seguir instruções e recontar histórias.




As habilidades auditivas da criança, assim como a linguagem oral, se aperfeiçoam não somente com a idade e com o desenvolvimento, mas, sobretudo, com a prática auditiva.
Ouvir deve ser um ato constante e natural, qualquer atividade do cotidiano pode ser aproveitada para estimulação.